Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de outubro, 2020

Sobre a negação (o mecanismo e a actual)

Há um mecanismo psicológico de defesa do ego que nos leva a negar a existência de algo que seja particularmente doloroso. Uma menina violentada por alguém da família que conte à mãe, a reação mais comum desta é gritar com a menina, chamar-lhe mentirosa e dizer-lhe para nunca mais repetir aquilo. Se o estupro se ficou pela infância, é comum também que a menina o apague da memória. Sabe que houve algo, percebe que tem comportamentos estranhos em relação aos homens, ao prazer ou ao seu corpo; pode até lembrar-se de alguma coisa, mas não recorda o que se passou. Toda a gente sabe que o marido a “trai” ou a mulher o “trai”, mas ela jura a pés juntos que é impossível. Recordo um colega que numa viagem de trabalho, no dia em que me conheceu, queria “dormir” comigo. Depois contava-me as aventuras que ia tendo. Até ao dia do seu funeral, em que conheci a viúva e ela me disse que punha as mãos no fogo: que ele nunca a tinha “traído”. (Coloco traído entre aspas, porque estou a usar a palavra da f

O futuro está aí: Ou o criamos ou alguém o cria por nós

A terra estava a chegar ao limite. As pessoas também. Era claro que era necessário fazer alguma coisa, mas à boa maneira humana, a esmagadora maioria de nós (ou todos, sei lá) preferia ignorar os avisos e continuar a viver da mesma forma. Imaginávamos que não ia acontecer nada no nosso tempo, havia de ser nessa coisa abstrata chamada futuro. Santo engano. O futuro resolveu fazer-se presente. Tal como a morte, que a esmagadora maioria dos cidadãos se entretém a fingir que não existe, um dia bate à porta e … Foste! Agora temos o futuro à frente e ou continuamos a fingir que não é nada, ou que se ficarmos fechados em casa, com os olhos, o nariz e a boca tapados vai passar, ou fazemos o que se calhar já há muito devíamos ter feito. TEMOS PELA FRENTE TALVEZ O DESAFIO DAS NOSSAS VIDAS Podemos colocar-nos na pele da vítima, que acha que se os outros mudarem as coisas se resolvem, e portanto se demite da responsabilidade da sua própria vida. Ou podemos decidir ter voz na nossa história pessoal

O canteiro selvagem

Era o canteiro mais selvagem do quintal da casa da minha mãe. Desde que comecei a tratar do quintal, por não ter encontrado ninguém para o fazer, que me encantava aquele canteiro cheio de fetos, trepadeiras e outras plantas que não sei o nome, e no Verão enfeitado de rosas, jarros e malmequeres entre outras flores. Sabia que tinha que lhe fazer alguma coisa, até porque as plantas pendiam para as escadas e encalhavam em nós quando passávamos, mas ainda não tinha pensado no quê. Quarta-feira cheguei a casa de minha mãe vinda de um mês de retiro. Encontrei alguns ramos cortados logo à entrada, estranhei, descendo as escadas encontrei um amigo dela que em tempos lhe tratava do quintal de forma voluntária, mas que tinha deixado de o fazer. Na altura, entre muitas coisas boas, também decepou algumas árvores que levaram anos a voltarem a dar frutos. Não gostei de o ver. Estava ali a fazer alguma coisa sem ter falado comigo ou com as minhas irmãs. A minha mãe já há uns anos que mantendo o esta