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Desejo do pote: Viagem de carro até Itália

Com a Lua Nova de Carneiro, em Abril, lancei o projecto Círculos do Sol e da Lua, proposta para um ano. Convidei os participantes a arranjarem um pote para colocarem os desejos, no final do ano abrimo-lo e vemos que desejos se realizarem e quais não.

Claro que arranjei o meu próprio pote e coloquei-lhe vários desejos dentro, entre eles fazer uma viagem de autocaravana até ao Norte de Itália, onde o meu filho está a residir, em Outubro, depois de acabar o Curso de Massagem.


Como não tenho autocaravana, havia que encontrar quem tivesse e viajar em grupo.

Pus o desejo no pote, falei dele a algumas pessoas, mas pouco depois esqueci. De vez em quando vinha a ideia, mas não lhe dava continuidade. Creio que decidi que era impossível.

Uns dois meses antes a ideia voltou com insistência. Mas como havia de fazer? Não conhecia ninguém com autocaravana, também não fazia ideia quem poderia querer e ter possibilidade de ir; e como o plano era ir parando pelo caminho, a duração seria de cerca de um mês, com estadia uns dias em casa dele, como é que ia encontrar alguém que quisesse e pudesse e que simultaneamente me apetecesse a sua companhia?

Começou a surgir a ideia de ir sozinha, no meu carro, levar tenda e ir acampando. 



Mas eram muitos quilómetros. Nas viagens entre a minha casa no Alentejo e a da minha mãe para os lados de Lisboa, que faço todos os meses, quase sempre tenho dores nas costas, e nem chega a 200 kms, como era possível agora fazer 5000?

Falei nisso a algumas pessoas e todas me diziam: “É impossível, não consegues.”

E eu também achava que não ia conseguir, fosse pelo corpo, fosse pela alteração das regras de Covid, por não me deixarem passar em França…


No entanto apetecia-me viajar, ter férias, passar uns dias à beira-mar, e não me apetecia andar enrolada com máscaras e testes à Covid que as viagens de avião, longas distâncias de comboio e alojamentos me iriam obrigar. Por isso decidi ir, iria até onde conseguisse e se tivesse dificuldades ficava uns dias em algum sítio e depois voltava para trás.

Tinha como ideia passar por Toledo, ir até Castelló de la Plana e daí viajar até Génova, sempre à beira-mar; seguir depois para o fim da viagem, em Biella. Coloquei na minha mente paragem em Tarragona e… fim… não planeei mais.


Tinha pensado inicialmente em fazer cerca de 500 km por dia, mas já em vésperas decidi-me por metade, e assim comecei por Mérida, segui para Toledo, depois Albarracín. Andava quilómetros e quilómetros a pé todos os dias ... e dores nada. Em Albarracín percebi que afinal conseguia.

Não sei eu que as dores têm raiz emocional? Viajar para ter férias, conhecer locais lindos e ir ter com o meu filho não me dá dores nenhumas, só alegria mesmo!

 

Queria chegar na Lua Cheia, percebi então que o tempo ia ser curto, tinha que selecionar e reduzir a permanência em cada sítio. Não estava com fé nenhuma em França. As notícias que vou ouvindo, e que sei terem pouco de verdade (mas onde saber a verdade?), criaram em mim a expectativa de dificuldades no país.
 

Na fronteira ninguém me mandou parar, já tinha passado e começado a exuberar - “Je suis en France! Je suis en France! Lalalalala Je suis en France!” – quando me apercebi… “Os guardas fronteiriços não estavam de máscara!”

 

E assim foi. Nos pontos de França por onde passei raras pessoas andam de máscara, nos restaurantes nem sequer os empregados usam, o mesmo os polícias; as pessoas amontoam-se sem máscaras; vi à entrada da Catedral de Marselha um bispo rodeado de pessoas todos sem máscara.

 

Mais um bicho papão a cair! 1º bicho que se eclipsou - as minhas dores; 2º França. Em Itália entrei na mesma sem problemas.

A cada dia que passava aumentava a satisfação de ser capaz. De ter condições para fazer uma viagem sozinha, iniciá-la mesmo perante um mar de dúvidas, seguir sempre o coração que me dizia para ir em frente.


A partir do 9º dia surgiu uma dificuldade completamente inesperada. Os parques de campismo fechados!

Sem aviso no Google Maps, sem qualquer indicação dos seus sites. De repente na 9ª noite, numa terra desconhecida em Espanha, já perto da fronteira de França, que queria abraçar no dia seguinte logo pela manhã, nem parque nem nada. Foi necessário dormir no carro… e dormi. E acordei no dia seguinte com os primeiros raios de luz, vi o nascer do sol, e fiz-me à estrada.


E assim foi até ao fim. Quatro noites a dormir no carro.

Não é uma experiência que queira repetir, pois a higiene não é a melhor <risos>, mas foi mais uma experiência. A de “homeless” (sem lar), felizmente não sem-abrigo, pois o carro esteve sempre lá.

E assim, ao fim de 13 dias, cheguei ao destino, a Biella, ao sorriso maravilhoso do meu filho.


Concluo daqui que as limitações que creio ter residem sobretudo na minha cabeça. Que o que imagino vá acontecer, é só mesmo imaginação, a realidade é sempre outra coisa. Que vale a pena seguir o que me pede o coração. Que a perfeição não existe, por isso é mais inteligente a aceitação. Que a vida pode ser bem simples e boa na mesma.

 

Se me tivesse deixado levar pelo medo ou pelas dúvidas teria continuado confinada a Portugal; assim pude experimentar o que é estar em Espanha, em França e em Itália. Ver sítios lindos, diferentes maneiras de estar na vida. Pude aprender imenso, pude crescer!



Comentários

  1. que maravilha!!!
    Vou arranjar o pote!!!
    que inspiradora!
    Continuação de boa viagem!
    Em 2017 tb fui até à alemanha de carro com um amigo. Fomos parando e acampando mas durante o dia almoçávamos no carro em andamento 😱e parávamos pouco.
    Depois de chegar à terra dele, e ter ficado lá dois dias, fui de comboio ter com uma amiga que tb vive na Alemanha …. várias horas de comboio. E por lá fiquei mais uns dias.
    Não tinha programado a volta… logo se vê… não tinha boleia de volta. Para fugir ao avião, neste caso com medo, ia adiando. Pensei visitar os meus cunhados em paris e assim iria de comboio… mas ela não estava e ele estava doente. Bom lá tinha de vir de avião 😱😬. Como estava longe de Berlim, a minha amiga consegui-me uma boleia até uma terra onde vivia um primo e lá fiquei uns dias até ao dia de regresso… todos os dias ia a berlim visitar a cidade mas a vila era longe apanhava vários transportes até lá chegar mas berlim vale as visitas.
    E, apesar de ter feito hipnoterapia estava com medo da viagem. Mas foi incrível como se fosse a 1.a vez e sem medo. Ia no meio de dois calmeirões que estavam mesmo com muito medo!
    Estas viagens pouco programadas e de carro são o melhor! Vê/se muita coisa/pessoas novas e suas culturas!
    (ganda texto sorry)

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    Respostas
    1. Abraço... Se calhar podemos pensar em fazer uma juntas ;)

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  2. Excelente!!! Brava coragem. É extraordinário quando vencemos os nossos medos e expandimos os limites.
    Que possamos continuar a sonhar! Tenho que arranjar pote 🙏.
    Abraço gigante 🌟

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    Respostas
    1. Um frasquinho com tampa, ou uma caixinha servem. Convém reciclar, que o Carma faz-se a cada gesto. 😘

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  3. Fico tão contente por ti minha Querida…. Eu já fiz inúmeras viagens de carro por essa Europa fora até á Holanda…. pois vivi e trabalhei lá… tb as fazia de volta para Portugal…. Já fui sozinha há cerca de 30 anos sozinha de carro para a Alemanha trabalhar … depois vim sozinha tb….
    Tb já viajei para o norte de Itália e depois para Portugal…. sozinha e sempre a andar…. dormi muitas vezes no carro… quando podia ficava numa pensão de estrada pois são mais baratas…. Agora já não arrisco… o carro é velho tal como eu tb já o estou… quase 70 anos…. É muita estrada…
    Abracinho minha Querida!!! Até breve!!!! ✨💖🤗

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    Respostas
    1. Que lindo! O meu carro tb já tem uns anos, mas o meu mecânico diz que é um carro para a vida. Ora se é meu companheiro para sempre tem muita volta para dar. Uma destas ainda não lhe tinha calhado. Beijinhos. Grata pelo teu comentário

      Eliminar
  4. Eu fiz o mesmo mas em versão sul de Portugal. Desci junto a costa e atravessei o Algarve de uma ponta a outra, de carro, sozinha e numa tenda a ficar em vários parques de campismo. Foram 12 dias fantásticos comigo mesma! Adorei :) beijinho

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